Skinwalker

Um dia meu pai me contou uma história que, por algumas razões, eu nunca vou esquecer. Acho que essa foi a primeira história que ele me contou, e eu ainda era uma criança. É também a história de como o meu avô morreu, mas honestamente, essa não é uma das razões.

Normalmente você vê histórias sobre fantasmas na TV, ou quem sabe até ouve outras pessoas falando sobre o assunto, e sempre pensa "Isso não é real, eles devem estar loucos", e é sempre muito difícil acreditar nessas coisas.

Isso até algo acontecer, algo trazer sentido à essas histórias, ligar os pontos de uma maneira que você nunca tinha imaginado. Talvez tenha acontecido com você, talvez você tenha ouvido a mesma história várias vezes, acontecendo com pessoas diferentes. Não demora muito até o mundo se tornar algo muito maior do que você imaginava.

Como eu disse, essa é a história que meu pai me contou, mas eu nunca acreditei, mesmo com ele jurando que era verdade. Só depois de procurar um pouco mais sobre o assunto na internet a achar histórias iguais à do meu pai eu passei a acreditar no Rake.

Claro, não era assim que meu pai o chamava. Ele nunca tinha usado a internet na vida, então não sabia que nome tinha sido atribuído ao monstro, e quando ele escolhia chamar de "aquilo" ou "aquela coisa", ele usava a expressão "Skinwalker", de uma antiga lenda Cherokee que seu avô o contava.

Eu te contarei a história, assim como ele me contou:

"Uma noite, nós tínhamos saído para caçar." Ele me disse. "Coiotes, dava pra matá-los e vender a pele por 50 dólares." Meu pai vivia em Ohio, numa fazenda. "Eles matavam o gado às vezes, e nós caçávamos toda a noite por causa do dinheiro. De vez em quando, agente encontrava e matava um cervo. O dono da fazenda não se importava, e a carne alimentava a família por alguns dias."

"Agente tinha acabado de fazer a ronda e estava voltando pra casa a pé pela floresta, foi aí que nós encontramos."

"Sangue por toda parte: Espalhado nas árvores, na grama e até no riacho. Primeiro nós achamos que tinha sido um grupo de coiotes. Já tínhamos visto alguns ataques de grupos antes, mas nenhum que se comparasse àquela cena."

"Quando um grupo de coiotes ataca alguma coisa, eles fazem o trabalho bem feito. Eles escolhem um animal fraco, ou doente, ou até mesmo pequeno, e caçam o alvo, e o levam até um canto onde ele não pode fugir. Depois, o maior coiote do bando ataca a garganta da presa e ela morre. É um processo rápido e limpo, muito diferente do que tinha acontecido ali."

"Algo tinha encurralado um grupo de cervos na clareira. Coiotes não atacam grupos, nem lobos, porque seria muito difícil. Eram três  corpos, totalmente despedaçados. Dava pra ver uma cabeça em um canto, uma perna no outro. Predadores não fazem isso, eles não deixam restos para trás. O que quer que tenha matado aqueles cervos, não estava atrás de comida."

"Mas nós não sabíamos disso, quando vimos um monte de carcaças achamos que aquilo era um problema que deveríamos resolver. Eu lembro do meu pai me mandando voltar para casa; ele achava que tinha um grupo de cachorros por perto."

"Mas eu não ia deixar ele sozinho ali, e com certeza não ia caminhar por duas milhas de floresta sozinho só com um rifle e uma faca pra me defender. Meu pai estava com a escopeta, e eu não ia a lugar nenhum sem ele."

"Demorou um tempo para convencer meu pai, mas finalmente começamos a seguir os rastros do que tinha feito aquilo, algo que não foi difícil, nós só precisamos seguir a trilha de sangue. Aquela foi a primeira vez que eu vi meu pai assustado."

"Foi aí que nós começamos a ouvir barulhos. Eu já estive em muitas florestas durante a minha vida, e nunca ouvi nada parecido ao que ouvi naquela noite. Eu ouvi os animais gritando."

"Eu ouvi cervos, raposas, coelhos, guaxinins e pássaros, gritando como se estivessem assustados. Era quase 1 da manhã, e a não ser pela raposa e por alguns pássaros, nada deveria estar acordado, mas eles não estavam apenas acordados, eles estavam se movendo. Eu vi um grupo de pássaros voando direto nas árvores, tentando fugir dali. Nós encontramos um grupo de coiotes, e atiramos em alguns achando que eram os culpados pelo ataque, mas eles estavam correndo na nossa direção, também estavam fugindo."

"Depois alguns cervos fizeram o mesmo, então alguns coelhos, esquilos, e até dois porcos selvagens. Aquelas coisas deveriam estar se atacando, mas só pensavam em escapar dali."

"Nós deveríamos ter notado que o quer que estivéssemos procurando, não deveríamos achar, e provavelmente não poderíamos matar, mas a curiosidade do meu pai foi mais forte, e sabendo o que ele tinha feito nos tempos de guerra, era melhor para mim continuar ao seu lado."

"Finalmente chegamos a um vale aberto. Normalmente era uma plantação de soja, mas não estávamos na estação, então era apenas um campo de terra plana. Foi aí que vimos uma trilha, e as pegadas de vários animais fugindo da floresta, mas nenhum tinha pisado na trilha de sangue, como se tivessem deixado-a intocada para nós acharmos."

"Seguimos a trilha e não demorou muito para descobrir onde ela parava. Tinha uma antiga escola no topo de um monte. Metade dela tinha sido destruída por um tornado, mas ninguém morava lá há muito tempo. Às vezes alguns sem-teto se abrigavam na construção, ou drogados procurando por um lugar seguro. Nós achamos que tinha sido isso, talvez um cara drogado, mas não achamos isso por muito tempo.

"Nós nos aproximamos até umas 50 jardas, e ouvimos esse barulho, um som estridente. Era como se fosse feito por dois barulhos diferentes. Um era um som agudo e estridente, e o outro era um rosnado grave. Estava fazendo os dois ao mesmo tempo. Nós nos aproximamos até umas 20 jardas e ouvimos outro barulho. Eu lembro de achar parecido com papel sendo rasgado enquanto alguém balançava água dentro de um balde."

"Meu pai olha para mim, se ajoelha e sussurra. Eu preciso ficar atrás dele, porque nós vamos encurralar aquilo. Qualquer animal luta quando é encurralado, principalmente quando é um predador, mas é possível ver pela trilha que é apenas um. Ele me diz que é provavelmente um único cachorro selvagem, provavelmente raivoso."

"O plano era esgueirar até o animal enquanto ele estava comendo, atirar nele, e continuar atirando até ele parar de se mover, então cortar sua garganta. E se ele atacasse meu pai, era meu trabalho atirar nele ou esfaqueá-lo até ele fugir. Então meu pai se levantou, e eu fiquei atrás dele, um pouco para o seu lado. Foi aí que eu vi o que era, e desejo até hoje não ter visto."

"Ele estava curvado sobre a carcaça, arrancando pedaços e jogando o que não queria para o lado. Tem sangue espalhado nos tijolos da parede, brilhando sobre a luz da lua. Era pálido, parecido com um homem, mas não totalmente humano. Tinha braços e pernas humanos, mas se sentava como um macaco, e suas mãos não eram normais; tinham longos dedos com garras no final."

"Assim que o avistamos, meu pai hesitou. Ele não ia atirar em uma pessoa, então ele limpou sua garganta, para tentar fazer aquilo se virar."
 
"Eu juro por Deus, todo o barulho cessou. Eu nunca ouvi um silêncio verdadeiro antes disso, e nem depois, mas por dois segundos, nada, nada, fez nenhum som. O que tornou tudo mais alto quando aquilo se virou o pulou no meu pai."

"Ele ainda conseguiu dar um tiro, mas errou. Se ele acertou a coisa, ela não se importou. Aquilo estava nele, arrancando partes de sua carne. Eu começo a atirar com o rifle, à queima roupa, mas aquela coisa nem sequer parou. Eu dei cinco tiros, e depois comecei a atacá-lo com o cabo da arma, sem sucesso."

"Ele nem notou que eu estava ali."

"Estava arranhando meu pai, cortando sua pele. Começou pela sua barriga, foi até seu peito e subiu. Despedaçou sua garganta, seu nariz e seus olhos, depois voltou ao pescoço."

"Eu não lembro exatamente o que aconteceu, mas de algum jeito, a faca do meu pai acabou no ombro da coisa e meu pai acabou nas minhas costas. Eu estava correndo, correndo o mais rápido que eu já corri na vida, e aquilo estava me seguindo enquanto eu corria na direção da casa do dono na fazenda, que era a construção mais próxima dali."

"Eu consigo ouvir o monstro, rosnando e gritando atrás de mim. Ouço os galhos se quebrando e sendo jogados para longe, como se alguém com um machado estivesse acertando cada árvore que eu passava, mas mesmo assim, não olhei para trás nem por um segundo."

"Finalmente, eu piso em cascalho, olho para cima e lá está o dono da fazenda, bebendo com um grupo de amigos ao redor de uma fogueira. Eu grito e choro, e eles se aproximam. Estou gritando para chamarem uma ambulância, e ele olha para mim, e eu nunca vou esquecer o que ele falou."

"'O que é isso nas suas costas?' ele perguntou. Enquanto ele falava, ele viu uma daquelas camisas de flanela horríveis que meu pai sempre usava. Era o que tinha sobrado do meu pai, a maioria do seu rosto e seu torso, mas nada além da cintura."

"De repente nós ouvimos. Um grito estridente. O dono da fazenda me puxa e meu pai cai das minhas costas. Eu luto contra ele e choro, pois acho que meu pai ainda pode ser salvo de alguma maneira, mas a verdade é que estava morto muito antes de eu pegá-lo. Ele me levantou e me jogou dentro da casa."

"Ele e seus amigos, estamos todos dentro da casa, eles estão trancando as portas e pegando armas. O fazendeiro está me perguntando o que aconteceu, mas eu não sei o que responder, mas ele tinha visto o suficiente para saber que tinha algo perigoso lá fora. Todas as luzes da casa estão ligadas, e alguém ligou para a polícia. Eles vão chegar, mas só em quinze minutos."

"Nós olhamos para fora, e vimos aquilo caminhando na frente da fogueira. Sem saber o que era, um deles disse que parecia com um macaco. De repente, algo e jogado pela janela. Nós atiramos, mas não era o monstro, era o cachorro da casa. Só o corpo dele, sem cabeça nem pernas."

"Nós começamos a colocar coisas na frente das portas e janelas, e ouvimos algo na garagem, lembro de ouvir um dos amigos dele dizer que as portas da garagem estavam abertas. Nós ouvimos metal e vidro sendo quebrados, e colocamos um sofá e uma TV na porta que dava para a garagem."

"Aquilo quebrou mais algumas coisas, mas daí ficou quieto, mas não em silêncio, como estava antes. Dava pra ouvi-lo andando, e os caras estavam conversando, se certificando de que as armas estavam preparadas. Alguém me deu uma pistola, e assim que eu peguei, ouvimos algo quebrando no andar de cima, e mais um grito, que agora estava muito mais perto."

"Corremos para a porta que dava para o andar de cima e chegamos na mesma hora que a coisa. Ela abriu a porta um pouco, e alguns caras fecharam na mesma hora, mas um dos braços dela tinha ficado preso. Alguém com uma escopeta resolveu o problema, colocou o barril contra o pulso da coisa e atirou, arrancando sua mão."

"Mas aquilo só deixou a coisa mais irritada ainda, ela começou a bater na porta e empurrar. Estávamos de um lado, empurrando o máximo que podíamos, enquanto ela estava do outro, fazendo o mesmo. Aquela madeira não ia aguentar por muito tempo, então alguém mandou todos baixarem a cabeça. De repente, a metade de cima da porta tinha sumido, meus ouvidos estavam zunindo, e têm estilhaços por toda parte."

"Eu não sei para onde aquilo foi depois disso. A polícia chegou, e eu ainda estava grudado na porta, ou o que tinha sobrado dela. O Sol já tinha nascido quando me tiraram de lá. Eu fiquei num hospital por um tempo. Um monte de pessoas veio me fazer perguntas, mas eu nunca respondia."

"Quando voltei para casa, consegui um emprego com o dono da fazenda. Nós não conversávamos muito, não sobre o que tinha acontecido naquela madrugada. Mas quando eu fui chamado para servir o exército, com 19 anos, ele me chamou para conversar. Perguntei logo de cara o que a polícia tinha dito a ele. A história oficial era de um animal selvagem, provavelmente um lobo, ou um urso, tinha migrado para o norte. Eu perguntei a ele como podiam dizer isso mesmo com a mão como prova, mas ele me contou que a mão nunca tinha chegado na delegacia. O policial que a pegou bateu numa árvore no caminho de volta e a mão sumiu, provavelmente levada por algum animal, e os policiais declararam que era apenas uma pata de lobo que parecia uma mão humana."

"Eu nunca falei com o dono da fazenda novamente. Ele sumiu logo depois da nossa conversa, e nunca foi encontrado. Me disseram que ele devia dinheiro para várias pessoas e resolveu simplesmente fugir, mas eu não acho que tenha sido isso. Nunca voltei para aquela floresta, e não voltaria nem com um exército."

Essa última parte era uma mentira. Quando minha mão morreu, meu pai achou que já não lhe restava nada, e que ele podia muito bem resolver seus assuntos pendentes. Ele voltou à floresta, e nunca mais foi encontrado. O FBI foi chamado, mas eu sei que eles não estavam realmente procurando por meu pai. Eu tive que embebedar um dos agentes pra ele me dizer que eles recebiam ligações a respeito daquela floresta todo ano, alguém sempre desaparecia por ali. Isso foi tudo que ele me disse, mas antes de sair, ele escreveu "The Rake" em um guardanapo e me deu. Eu não sabia o que significava até pesquisar o termo na internet, e sinceramente, preferia não saber.

Fonte: Creepypasta Wiki

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